Luiz Philippe Monclar da banda Noras de Newton fala sobre a cota de ingressos, hábito da cena independente, e sua parcela de culpa no empobrecimento dela.

Banda Carioca fala de sua obra e cenário independente.

            

O cenário musical independente carioca está viciado num péssimo comportamento: a cota de ingressos para shows. Para os menos familiarizados com o esquema, explico-lhes:

– A banda A é “convidada” a tocar no evento B.

– O produtor do evento apresenta-lhes o seguinte esquema: a banda recebe um número X de ingressos para vender.

– Ao ultrapassar uma cota Y, o que a banda lucrar nos ingressos é dela.

Parece um esquema razoável se explicado assim. O problema reside na quantidade de ingressos vendidos para atingir a cota da casa (que geralmente é repartido com o produtor). Muitas vezes, o preço do ingresso é fora da realidade do evento e a quantidade necessária para atingir a cota da casa é incompatível com a popularidade das banda participantes, que se vêem obrigadas a tirar o dinheiro do ingresso do próprio bolso. Em resumo: paga-se para tocar. A casa, além de estar lucrando com o bar (lucro este, geralmente maior que a renda de ingressos), lucra também em cima da banda, que não traz público novo para si e termina o evento no prejuízo.

Os produtores e pequenas casas de shows do Rio de Janeiro se aproveitam da ingenuidade de bandas iniciantes para ganhar dinheiro às suas custas sob a bandeira de um evento que falaciosamente divulga estar “dando força para o cenário independente”, quando na verdade o está deixando mais pobre.

Aos grupos independentes falta um melhor posicionamento diante das casas coniventes com esse esquema. Já é possível levantar um evento próprio sem ter que sujeitar-se à produtores gananciosos. Há também casas que abrem espaço para bandas independentes e diversos festivais em que é possível se inscrever. É necessário que haja mais união entre os grupos independentes cariocas para criarem seus próprios eventos e aprenderem a enfrentar os abusos financeiros que são impostos.

Por Luiz Philippe Monclar

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