Folks por Jamari França:Quando vi a Folks no Circo Voador em janeiro fiquei impressionado com a pegada da banda, um som muito bem amarrado, bem tocado com um vocal potente, grandes músicos, uma das bandas mais consistentes da nova safra do Rock Brasil. Fui checar qual era e vi que a rapaziada já tinha mais de 10 anos ralando nos undergrounds da vida. Isso explica a qualidade sonora. É porrada da boa mesmo. Basta ouvir este primeiro álbum, que leva o nome da banda, bem alto, só não exagera pra não sair fumaça das caixas de som.
Uma vez me perguntaram como analisava uma banda de rock. Primeiro pelo punch dos músicos e sua habilidade nos instrumentos, nem precisa ser um grande músico, basta saber fazer muito bem o que sabe. Aqui o nível de excelência é alto, Sérgio S é criativo nos solos e frases, Paulinho Barros segura a base em sintonia com Sérgio. A cozinha é fundamental para que uma banda possa voar alto e, neste quesito, a Folks está bem servida com as quatro mãos seguras de Vitor Carvalho (baixo) e Ygor Helbourn, este com os pés também, claro. E precisa ter um frontman com um timbre rock’n'roll, alcance vocal e carisma, como Kauan Calazans.
O álbum é produzido por Felipe Rodarte com direção artística de Constança Scofield, gravado na Toca do Bandido, o estúdio do lendário produtor Tom Capone. Rodarte me falou da concepção do álbum. "Quis dar essa sensação de ser uma experiência de vê-los tocando ao vivo. Por tocarem muito e termos na Toca acesso a amplificadores dos anos 60 e 70, como os Plexis da Marshall, optei por uma produção diferente do que ouvimos nos dias de hoje. Ou seja, um guitarrista de cada lado sem dobras." Assim sendo, a guitarra solo Sergio S está no canal esquerdo e a guitarra base de Paulinho no canal direito, o que permite captar melhor a interação dos dois, os fraseados e solos de Sergio com Paulinho segurando a base e este também com espaço para fazer suas frases. Fiquei impressionado com a criatividade de Sergio, pontuando todas as canções com intervenções precisas, quase como uma segunda voz para Kauan em várias canções. Dentro do melhor conceito rock'n'roll, a voz de Kauan está pouco acima das bases na mix das canções mais pesadas, integrando seu punch ao corpo da música.
As composições são divididas entre Paulinho, nas melodias e harmonias, com as letras por Vitor, que compõe refrões ganchudos, que podem levar várias músicas ao sucesso se houver um investimento à altura da qualidade do material. As letras se dividem entre temas românticos e existenciais. Quando vão pro lado do amor, passam longe de clichês que abundam no mainstream. E muitas vezes o bicho pega, rolam alguns barracos. É o caso de Não Mande Flores, em que o cara berra que não ama a mulher, manda ela vazar, mas acaba caindo em contradição e confessando que ama mesmo, brada "eu não amo você, eu só amo você" e nesta a bateria de Ygor brilha. E tem o rock da arteira Carol, que toca guitarra numa banda, deu um pé na bunda do cara e agora "faz balada rock pra tocar no violão, é na mulherada que ela tem tesão." E tem o casal com dificuldade de comunicação que, em Muito Som, se abriga na música para celebrar o que os dois não conseguem falar, num rock de excelente refrão.
Esses músicos tem uma certa síndrome de Mick Jagger, que nunca dá mole pras mulheres, tá sempre espicaçando. Em Trago, se queixa do bafo de onça e manda ela pegar as roupas e vazar porta a fora. Em Led o bicho pega. Ele chega em casa, ela está virada no cão e comete o pecado mortal de jogar o disco do Led Zeppelin pela janela, ele tenta levar no papo - "mulher doida, larga disso, é meu, quem comprou tudo fui eu." E termina com uma virada de bateria parecida com o final de Rock'n'Roll, do Led Zeppelin (que voou pela janela). Em Maquiagem, bronqueia que a mulher fica o dia inteiro sem fazer nada, ele dá uma prensa, ela apela: "então chora, bota pra fora aquilo que o mundo não quer escutar, deixa a maquiagem borrar." As coisas se acalmam em Casa dos Lugares, onde os dois se entendem numa casa com visita pro mar, reconhecem que o mundo é estranho, mas acham lindo por causa do amor. Finalmente a saga romântica de Para Um Grande Amor, em que fala de um grande amor que rola pela madrugada, mas quando tudo acaba ele lembra quem é e recobra sua vida. Hum, estranho.
Aí tem os temas existenciais. Sei fala de coisas passadas por um personagem que vaga pelo mundo à espera do que o futuro lhe reserva. Até o Mundo Cair tem um tema parecido, critica quem segue velhas regras e quer ir para longe dos sorrisos breves e fingidos de pessoas iguais com vidas banais. Delírios fala em criar um amor que se deseja mas não existe no mundo, então cabe a nós criá-lo. Em Rascunho alerta que a vida dos outros pode parecer melhor, mas é só diferente, que é preciso olhar o mundo e ver além, em busca da harmonia que traz a solução. Outra Vez fala de uma mulher estacionada no tempo, solitária, cuja vida não sai do lugar, mas ela toma um sacode: "Puxaram o tapete voador e agora o mundo dela se acabou. É o preço que se paga por viver nas alturas sem querer descer." O álbum se encerra com Paralelas Imperfeitas, um cidadão que olha no espelho e não vê ninguém, que toma um remédio como antídoto para o mundo que o reprime.
Deu pra perceber que a banda Folks não está de brincadeira. Uma banda talentosa, com excelentes músicos e repertório. O melhor rock está de volta, uma formação que nada fica a dever aos grandes nomes da Geração 80. Pau na máquina.
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