A ordem que parece prevalecer atualmente em nosso cotidiano é o imediatismo típico da evolução tecnológica em que vivemos. E isso não necessariamente é ruim.
Hoje, dia 17.12.15, nos vimos desamparados com o anúncio de bloqueio do serviço do Whatsapp, como se nos tivesse sido retirada a capacidade de falar, o que demonstra que lidamos com as facilidades tecnológicas de uma forma tão imersa e intensa que privados por pouco tempo sentimos cada segundo a sua ausência.
Interessante é imaginar que há muito pouco tempo sequer contávamos com metade das facilidades tecnológicas de hoje que nos trazem incríveis benefícios e conforto como, por exemplo, fazer ligações com vídeo, pedir serviço de transporte e comida através de aplicativos de celular, dentre outros.
Na forma de se consumir música a indústria avançou consideravelmente utilizando o desenvolvimento tecnológico, todavia, a grande questão é por que ainda há tanta restrição do mercado quanto ao desenvolvimento de soluções tecnológicas para a cadeia produtiva?
Perceba que não me refiro à facilidades para o consumo de música, mas sim, de soluções que transmitem mais confiança para artistas e profissionais do mercado.
No texto Músicos, vocês precisam gostar de contratos foram abordadas questões inerentes à atuação de músicos que (em sua grande maioria) ainda encontram grandes dificuldades em lidar com formalismos típicos de uma conduta profissional, como, por exemplo, definir as cláusulas em que será regido um show.
“Como fazer negócio? Depois de 100 anos de um certo modelo único que servia para todo mundo, consagrado pelo nome de ‘gravadora’, quando este modelo fracassa pelo desgaste tecnológico (…) é normal e compreensível que os artistas da música sintam falta de uma estrutura comum a todos, algo que simplificava (…). Pior, neste momento, ninguém sabe como fazer funcionar de outra forma o negócio, essa troca entre público e artista”.
Leonardo Salazar, Música LTDA – O negócio da música para empreendedores. 2ª Edição. SEBRAE. 2015. fl.23
O momento atual é de entender sobre a história e transparência na cadeia produtiva da música e compreender que pode existir um novo modelo único e que este deve ser baseado na imparcialidade e transparência obtida através da tecnologia.
Neste diapasão, o relatório do Rethink Music da Berklee sugere como uma das soluções para conceder maior transparência ao Mercado da Música justamente a utilização da tecnologia auxiliando nas questões contratuais e principalmente na divisão de royalties.
É compreensível que haja dificuldade em encarar todas as possibilidades de licenciamento, cessão e autorização possíveis no Mercado da Música. Definir o que se almeja em uma relação contratual necessita experiência e interesse e é exatamente neste ponto que o desenvolvimento de soluções tecnológicas pode auxiliar – criando facilidades e automatismo.
Os Smart Contracts, por exemplo, são contratos automatizados, em que a execução é feita pelo software, seguindo as condições criadas pelo usuário.
Ter por padrão os contratos inteligentes nas relações existentes no Mercado da Música auxilia na formalização dos serviços além de garantir definição quanto às cláusulas contratuais evitando que seja firmado contrato em que o interesse de um se sobrepõe ao outro.
Um bom exemplo do que seria um Mercado da Música ideal, ou Mycelia, como têm sido definido por alguns artistas, pode ser visto neste protótipo idealizado pela Imogen Heap e desenvolvido pela Ujo Music utilizando o single Tiny Human, como experimento.
O protótipo visa definir as políticas de uso, preço, autores e porcentagens, metadados e, ao pagar pelo próprio site, o dinheiro é distribuído entre as partes diretamente, sem intermediários.
De fato ainda existe receio quanto a implementação de avanços tecnológicos tendentes a criar uma cadeia produtiva da música mais igualitária, todavia, é evidente a capacidade humana de se acostumar com facilidades tendentes a desatar nós da burocracia baseada na lógica da preponderância de interesses quando o que realmente interessa são os benefícios frutos da transparência.
E você, gostaria de utilizar serviços de baseados em Smart Contracts?
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