Os integrantes da banda Noras de Newton falam um pouco sobre a evolução e as influências do grupo, mas não deixam de comentar sobre o cenário independente.
1) Noras de Newton é um nome que soa simples mas também possui um ‘Q’ enigmático. Conte pra gente o porquê do nome e conte um pouco da história da banda?
Essa questão do nome é um dos fatores que mais tem despertado a curiosidade da galera que se aproxima da gente.
Pode parecer algo complexo relacionado à Física ou coisa parecida, mas é algo bem mais simples que isso. Newton é o nome do dono do estúdio que a gente mais ensaiava no começo da banda. Nessa época éramos uma banda integrada somente por meninas e uma das primeiras bandas com esse tipo de formação a ensaiar por lá. Ele sempre foi um cara muito legal com a gente e acabamos nos aproximando muito dele, dando margem a algumas brincadeiras. Dentre elas, os vários “casamentos arranjados” que ele programava pra cada uma de nós com o filho dele (repetindo: tudo parte de uma brincadeira). E foi assim que em um desses ensaios acabou surgindo o nome. Foi bem espontâneo.
O Newton se amarrou tanto em saber que demos o nome da banda como uma “homenagem” que foi a partir dessa escolha que começamos a ficar mais conhecidas na cena independente do Rio. Ele sempre falava da gente pra outras bandas e a galera ficava curiosa pra nos conhecer. Foi assim que começaram a nos indicar pra alguns produtores de festivais independentes da cidade e a surgirem alguns shows.
Foi nesse estúdio também que surgiu parte das primeiras composições da banda. A outra parte surgiu no apartamento da Ana Luiza (baixista). Ela tinha uma bateria completa e alguns ‘amps’ no quarto. Só precisávamos levar as guitarras e o mic. Era uma ‘doidera’! Até hoje não sabemos como os vizinhos nunca reclamaram da gente.
Alguns anos depois surgiram as outras composições e criamos o “Superfície” – que inclusive foi gravado nesse mesmo quarto da Ana e produzido pelo Dom Bloch, que fez um trabalho lindo e muito competente.
2) O “Superfície de 2013” que rola aqui na Zamus é um disco que demorou um pouco a acontecer. Isso se deu por quais motivos?
Éramos cinco meninas com pouquíssima experiência nesse meio e com um som ainda muito cru. Levamos um tempinho até começarmos a trabalhar melhor nossas influências, saber o que podia nos proporcionar uma melhor qualidade ao nosso som, a conhecer e poder investir em bons equipamentos e bons estúdios de gravação. Tudo isso conta.
3) O processo de amadurecimento da banda contribuiu pra essa demora , digamos, de um trabalho mais concreto?
Com certeza. Começamos muito cedo. Tínhamos 16, 17 anos quando a banda surgiu com a primeira formação. Com o tempo fomos amadurecendo nosso conhecimento, tanto do meio musical, quanto de vida. Conseguimos aprender e absorver muita coisa nova e positiva nesse percurso. No começo tudo se tratava de fazer show, conseguir público, viver experiências novas. Passamos por “poucas e boas”, assim como a maioria das bandas independentes.
Chegou uma hora que a empolgação diminuiu e passamos a refletir mais sobre o caminho que a banda tomaria. Paramos pra pensar e percebemos que o material que tínhamos não era o suficiente para alcançarmos uma projeção maior, um reconhecimento mais sério. Foi aí que decidimos parar pra criar algo mais concreto, sério e de qualidade. Todo esse processo nos ajudou muito e foi assim que acabou surgindo o “Superfície”.
4) O som da banda me parece mais calmo no último trabalho , mais harmônico e trabalhado. O que vocês têm ouvido de diferente que está influenciando o trabalho num todo?
Aos poucos cada integrante foi trazendo de alguma forma uma influência própria e também foi pesquisando a sua onda musical em novos sons. Com a ajuda de alguns amigos íamos abrindo mais a cabeça para ouvir determinadas bandas com mais atenção e íamos trocando informações. Tinha dias que nos reuníamos na casa de alguns amigos – o Dan Correa foi um deles, que nos ajudou muito nesse lance de sonoridade – só pra ouvir músicas, ver vídeo clipes e vídeos que de alguma forma mostravam o trabalho de determinado artista de maneira mais profunda.
Fazíamos isso principalmente com Red Hot Chilli Peppers, Foo Fighters, Queens of the Stone Age e Incubus – influências em comum a todas integrantes na época. No meio do caminho encontramos a bateria da Jimmy Eat World e as guitarras psicodélicas das recém-descobertas meninas da Warpaint, misturadas com as experimentações dos Mutantes. Isso sem contar as influências brasileiras independentes da banda mineira Monno e da carioca Medulla.
Hoje com a nova formação e a entrada do Luiz (teclado), Nathanne (baixo) e Carol Chaves (guitarra) chegam novas influências. Algo moderno e eletrônico como o último trabalho da Tegan and Sara, mas também o rock da Juliette and The Licks, da Taking Back Sunday e Artic Monkeys.
É uma “mistureba” que agrega e adiciona muita coisa, de diferentes formas, ao nosso som. E vale ressaltar que nada nos fecha ou impede de ouvirmos outros sons, que podem vir dos mais diferentes estilos.
5) O som pesado do rock em contraponto das letras melódicas é um desafio para vocês? Ou isso surge naturalmente no processo de composição?
Surge naturalmente. Talvez seja o resultado dessa tal “mistureba” de influências que a gente comentou anteriormente.
6) O cenário independente carioca tem algo de interessante? Citem alguma(s) banda(s) que vocês achem interessantes ou que estejam ouvindo?
O cenário independente carioca é muito rico. A todo momento surgem novos trabalhos e estamos sempre conhecendo novos sons, de excelente qualidade. Dentre eles temos o trabalho da Alice no Reino dos Suricates, o da Gente Estranha no Jardim, da Divisa, da Venice, da Trinka, dentre outras.
7) Do cenário carioca – vocês esperam algo? Querem chegar a algum lugar ou possuem alguma expectativa?
Esperamos que o cenário se expanda e que apareçam mais casas de shows com boa estrutura e menos produtores querendo explorar as bandas que estão lutando por um espaço. Uma união entre as bandas também seria legal pra fortalecer a cena, com menos “panelinhas”.
Chegar a algum lugar é o que todo mundo quer. Ser reconhecido pelo seu trabalho e viver de música. Expectativa tem que existir sempre, sem ela o sonho acaba morrendo; mas tudo em seu tempo certo. Queremos atingir novos públicos, tocar em outros espaços pra poder mostrar o nosso projeto. O lance é buscar sempre fazer o melhor, claro, sem precisar passar por cima de ninguém. Sabemos que ainda temos muito trabalho pela frente.
Por Marcio Mauricio