A atual cena musical, principalmente a cena rock, tomou fôlego, engatou a primeira marcha e pisou fundo no acelerador. Está bonito de se ver, principalmente pra quem está há anos trabalhando por ela. É muito bom ver uma galera com fôlego renovado, trabalhando de forma competente e fazendo a cena acontecer. Porém, está tudo muito lindo, maravilhoso, mas o velho problema continua a nos rondar e não vejo muito diálogo sobre o assunto: a sustentabilidade da cena musical.
Primeiro é importante falar que a cena musical do Rio de Janeiro é cíclica, em 2008-09 tínhamos o Grupo Matriz, com importantes casas de shows que faziam a diferença no Rio de Janeiro, como a Cinemathéque, Cine Lapa e Drinkeria Maldita que fecharam e outras se reposicionaram no mercado, como o Teatro Odisseia que apesar de ter na sua programação shows de rock, vem apostando em festas para os dias nobres. Tínhamos a Rede Rio Música, projeto do SEBRAE, que buscava soluções criativas e sustentabilidade para a produção musical de todo o Estado do Rio de Janeiro. O objetivo era fortalecer os laços entre aqueles que já atuavam de maneira isolada e trazer novos agentes para a cena. Resumindo: é o famoso “a união faz a força”. Isso em 2008, meu povo!!! Por isso eu digo que a cena é cíclica…
“a união faz a força”
Através da Rede Rio Música tive a oportunidade de conhecer parceiros, profissionais da cadeia produtiva da música com os quais mantenho laços profissionais e de amizade até hoje. A Rede me propiciou circular pelos festivais independentes do Brasil, participar de cursos de capacitação, porém quando tudo parecia tomar o rumo certo, terminou.
O fato é que com a extinção da RRM, e consequentemente sem o apoio do SEBRAE e seus parceiros, a cena perdeu parte do seu fôlego. Porém, surgiram novos coletivos, o que culminou na parceria para realizarmos Festivais no Circo Voador e Teatro Odisseia.
Hoje, com a retomada da cena rock, os eventos se multiplicam pela cidade, espaços alternativos surgem, a rua aparece como uma alternativa na formação de público, o jornal O Globo volta a dar atenção à cena, mas ainda são eventos de nicho e não de massa, e talvez por isso as bandas não consigam se sustentar financeiramente.
O produtor Felipe Rodarte, músico e produtor musical dos estúdios Soma e Toca do Bandido, ligado no movimento do Rock independente do Rio de Janeiro, e idealizador do encontro de bandas que acabou gerando a hashtag #ACenaVive é um exemplo de pessoa aberta ao diálogo, fora que traz uma perspectiva de melhora na qualidade musical das bandas quando as mesmas passam a ter acesso a estúdios como o da Toca do Bandido, através do seu envolvimento com elas. A cena é cíclica…
O fato é que precisamos conversar, e juntos tentar entender como fazer a cena se tornar sustentável.
Eu me pergunto todos os dias: como as bandas conseguem se manter com as suas Gibsons, Fenders, pedaleiras super modernas, videoclipes de ótima qualidade, gravação de CDs produzidos por profissionais gabaritados ou não, se o cachê, quando existe, ainda é muito baixo ? É tudo lindo e tem que ser assim mesmo, mas até quando vamos suportar depender de outras fontes financeiras para bancar o sonhos de viver de música? Até quando vamos bater cabeça?
Refiro-me aos produtores de eventos, pois não vejo como conseguir ter uma cena sustentável com tantos eventos iguais acontecendo no mesmo dia, por exemplo. Ou ver um único evento bombar na cidade, enquanto palcos super profissionais como os palcos da rede de Teatros SESI não são fortalecidos por esta “cena”. Será que não precisamos vestir as sandálias da humildade, sentar e conversar? Se “juntos somos mais fortes”, precisamos estar juntos de fato, para buscar alternativas sustentáveis para a cadeia produtiva da música independente.
A produtora Coletivamente, na qual sou sócia, simplesmente pausou a produção de eventos, pois queremos poder pagar os artistas e somente assim voltaremos a produzir. Por essas e muitas outras, volto a pergunta:
Vamos falar sobre sustentabilidade na cena musical?
Tags: Sustentabilidade
Ótima e oportuna observação, Ana. Não sei se a cena vive, se sobrevive, ou se, simplesmente, como você citou, é cíclica.
Eu participava da Rede Rio Música desde 2006, mesmo morando longe prarrai. Participava porque acreditava na junção SEBRAE + Cadeia Produtiva, EXATAMENTE com esse sentido, o de trazer sustentabilidade para os atores dessa Cadeia. E o que vimos, foi que a RRM, sem mais nem menos, sem aviso, foi “pulverizada”. Motivos? os mais diversos. Mas o que mais me chateou foi que a desunião, o egoísmo, o “farinha pouca…” mais uma vez venceu.
O processo é muito árduo pra sair “do nada”. O mercado independente de música (em todos os estilos) rende no total até mais do que o “mainstream”. Mas como atrair o público para o que não toca nas rádios, para o que não aparece na Globo?
No início dos anos 80 o BRock se tornou “mainstream” graças a visibilidade que adquiriu enchendo “clubinhos” em vários pontos do país. Mas foi tudo meio “sem querer”. E rolou!! Agora, com as redes sociais, youtube, Wifi, tudo em tempo real, não conseguimos porque?
[…] dias atuais é imprescindível discutir sobre a sustentabilidade na cena musical. De fato os músicos já entenderam a necessidade de dar vazão à sua obra e sobre a existência […]